terça-feira, 27 de maio de 2008

Uma revisão bibliográfica sobre conflito interétnico.

As características da situação de conflito interétnico que compõem este trabalho impõem um start que leva a um exame da compreensão antropológica sobre contato e, consequentemente, a uma revisão teórica acerca de conflito interétnico, pretendendo compor um quadro anterior, como é possível quando se estuda sobre o passado da ocupação das terras do que vem ser hoje o estado de Roraima. Uma compreensão que rompe o circuito epistemológico e que parte para uma sintonia teórica apropriada com as especificidades desta pesquisa: não um conflito exclusivo entre índios e não índios; mas, entre estes.

O dicionário Aurélio da língua portuguesa (1993) tende a dar uma noção geral na sociedade local, o dicionário. Foi quando identifiquei um distanciamento maior em relação ao que indicava a pesquisa bibliográfica e as evidências da investigação em campo. Mas como sair da sinonímia? Afinal, na língua portuguesa brasileira, conflito tem o mesmo significado de guerra. Conflito é definido como “Luta, combate. Guerra. Desavença, discórdia” (op. Cit., p. 138). Mas, conflito e guerra é uma coisa só? A mesma fonte define guerra como “luta armada entre nações ou partidos; conflito. Expedição militar; campanha. A arte militar. Oposição” (op. Cit., p. 281). Portanto, há aqui apenas um só objeto semântico. Da Sociologia, uma definição para ambas pode ser identificada no livro de Pérsio Santos de Oliveira (2001) como “processo social que decorre da luta pelo status social. Quando indivíduos ou grupos procuram derrotar ou destruir um rival, de forma consciente e pessoal, surge um conflito” (op. Cit., p. 236). Com sua forma simples de fazer compreender, sugere, portanto, vir por ocasião da luta entre classes sociais, no tom marxiano e weberiano .
Para Marx e Weber, só há conflito na sociedade por causas sociais, políticas e econômicas e somente quando por oposição entre proprietários dos meios de produção – a burguesia, e os que dispõem apenas da força de produção – o proletariado, o que culminaria na luta de classe, idéia originária da Revolução Francesa (1789) e atualizada por Karl Marx e seu colaborador Friedrich Engels no trabalho Manifesto Comunista (1848) para os quais "a história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes” (Marx; Engels, [1998], p. 4). Um conflito entre capital e trabalho.

Mas, como identificar classe social em sociedades indígenas, partindo do critério de donos dos meios de produção e aqueles, outros, proprietários da força de trabalho? Um esforço de atualização do entendimento de Marx e Engels pôde ser apresentado por alguns autores e autoras. Tratam de uma releitura do marxismo ortodoxo.
A abordagem dos fatores políticos tem centralidade e a política passou a ser enfocada do ponto de vista de uma cultura política, resultante das inovações democráticas, relacionadas com as experiências dos movimentos sociais, e tendo um papel tão relevante quanto a economia, no desenvolvimento dos processos sociais históricos. Duas grandes referências fundamentaram esta releitura. A teoria da alienação desenvolvida por Lukács (1960) e pela escola de Frankfurt, e a teoria de Gramsci sobre a hegemonia. A primeira aborda a alienação "em termos dominação dos sujeitos por forças alheias que impedem o pleno desenvolvimento de suas capacidades humanas e a emancipação como a libertação das garras destas forças alheias, sejam elas "forças da natureza" ou advindas da organização da sociedade" (Assies, 1990: 24).

Podemos situar conflito interétnico dentro do arcabouço dos movimentos sociais, ou seja, das dinâmicas sociais? Nesta direção, uma aproximação entre conflito interétnico e a idéia de que um movimento social por parte de organizações existentes, interage socialmente, favorece a uma mobilidade por problemas advindos de seus interesses cotidianos, como cidadãos, consumidores, ou como cidadãos usuários de bens e serviços públicos. Nesta perspectiva, conflitos interétnicos tornam-se movimentos sociais porque só existem pelas ações práticas dos homens na história. Organização e consciência ganham topo na hierarquia para elucidar o seu estendido.

Qual seria a base de sustentação para este enquadramento, considerando o processo de desenvolvimento histórico dos conflitos sociais? Os textos consultados e apresentados a seguir, apontam para a observação de um consenso dentro do approach marxista, denotando que a realidade necessita de ferramentas da racionalidade científica desde a concepção à prática, mas que nem sempre pode ser visualidade na relação hipotético-dedutiva se...então, causa...efeito. Ela requer outras explicações que, imediatamente, não são reveladas, corporalmente. Através da objetividade pode ter ou não, acesso à forma e aos modos de como os fatos, fenômenos e acontecimentos em geral da realidade, realmente ocorrem e porque eles são desta forma e se apresentam de outra. O eixo dessa discussão vem girar em torno da validade ou não desta perspectiva, da hierarquia ou não dos setores que compõem as relações sociais dos homens entre si e com a natureza.

Um comentário:

CONSDEARQUE disse...

Ajudou-me muito

Mais será que não tens como me dizer a importância dos conflitos interétnicos?

Por Favor, fico aguardando :)